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Dr. Jorge Luis Valiatti - Jornal Diário de São Paulo

Dr. ValiattiSaúde pública na UTI: faltam médicos intensivistas

Segundo reportagem do Jornal Diário de São Paulo, publicada em 5 de maio, há um déficit de 37,8% no número de médicos intensivistas nos hospitais da rede municipal de saúde. O Dr. Jorge Luis Valiatti, presidente da SOPATI, que deu declarações na matéria, se aprofundou mais no assunto na entrevista que você confere abaixo:

Na sua opinião, quais são os principais motivos da carência de médicos intensivistas na rede municipal de saúde?

A realidade da rede municipal de saúde de São Paulo não é diferente da situação da saúde pública do país. Dentre os fatores que influenciam nesse déficit, realmente existe uma escassez de profissionais intensivistas, da titulação de novos especialistas. A juventude médica ainda associa a vida do intensivista com o cidadão que vai dar plantão a vida toda, o que influencia a busca por outra especialidade. Sobretudo, a remuneração inadequada também contribui e desloca intensivistas para outras atividades médicas, aliado a isso, em muitas ocasiões, as condições de trabalho estão longe do que consideramos apropriadas para exercer essa atividade complexa com segurança. Vale destacar que a valorização da Terapia Intensiva abrange todos os profissionais de equipe multidisciplinar, pois médico intensivista não trabalha sozinho. Procurando por melhores condições de trabalho, os profissionais se dirigem à iniciativa privada e o ciclo continua.

Qual seria a possível solução para a escassez de médicos intensivistas?

Acho que há uma falta de maior inserção da Disciplina nas graduações. Embora tenhamos UTIs com 100% de titulados, essa não é a realidade universal e outras especialidades também atuam nos ajudando a prover cuidados intensivos. Devemos ter como objetivo a médio prazo formar um número suficiente de especialistas para seguirem os pacientes no mínimo durante o período diurno. Isso certamente fará toda a diferença. Temos também que criar uma cultura positiva para a especialidade e mostrar que podemos ter uma profissão com qualidade de vida, basta nos organizarmos.

Muitas UTIs, assim como demais departamentos da saúde pública, não possuem as condições ideais para o atendimento. Quais aspectos devem ser considerados para melhorar esse quadro?

Como já disse, a valorização dos profissionais é fundamental nesse processo e isso vale para todos os setores. No que se refere à infraestrutura, para falarmos a respeito do número ideal de leitos da Terapia Intensiva, é importante entender como os hospitais mudaram o seu perfil de atendimento na última década. A tendência hoje é resolvermos grande parte de nossos problemas em regime ambulatorial e reservar a internação aos pacientes críticos. Portanto, acredito que a relação ideal entre o número de leitos de Terapia Intensiva e os leitos totais do Hospital também precisa mudar. Se no passado tínhamos uma enorme enfermaria e uma pequena UTI, hoje há uma inversão desta lógica, e assim, obviamente, a demanda por especialistas será crescente. Temos também uma grande tarefa que é de implementar os cuidados paliativos. Considero que somente desta maneira possamos melhorar essa situação perversa de escolher entre vários pacientes com indicação de cuidados intensivos, quem vai ser admitido à UTI. Escolher quem admitir deveria ser apenas uma decisão médica.

Sobre os leitos de UTI, o sr. acredita que os disponíveis atualmente são suficientes para a demanda e que estão bem distribuídos no Estado?

Pelos critérios atuais do Ministério da Saúde, que exige um leito a cada 10 mil pessoas, o Estado de São Paulo estaria acima do mínimo da meta, pois possui 1,8 leitos. No entanto, basta darmos uma olhada nas emergências dos hospitais, sejam públicos ou privados, e constatamos que a realidade é outra. Devido a má distribuição geográfica, existe uma quantidade enorme de pacientes nas emergências aguardando vagas nas UTIs, isso está presente diariamente na imprensa e a judicialização dos espaços já é uma realidade. A demanda por leitos é crescente no país e isso se deve a vários fatores. Existe uma pressão muito grande por leitos de UTI neonatal. No outro extremo, temos um envelhecimento da população pela melhor expectativa de vida e esses pacientes muitas vezes necessitam de cuidados intensivos. Também vivemos uma epidemia de pacientes politraumatizados. Além disso, lembro que outra função das UTIs é dar suporte à realização de procedimentos cada vez mais complexos, e, portanto é necessário reservarmos parte de nossas vagas para essa questão. Por conta desse cenário, entendo que precisamos fazer uma reflexão profunda com toda a sociedade para estabelecer uma forma inteligente de utilizarmos os leitos disponíveis. Existem evidências, inclusive apontadas pelo CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), de que muitos pacientes já teriam critérios de terminalidade já na admissão. Não é um assunto fácil, e envolve vários aspectos culturais, mas é importante discutir.

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