SOPATI Sociedade Paulista de Terapia Intensiva
Tel.: (11) 3288-3332

Área restrita:

E-mail

Senha

Lembrar senha

Departamento de Psicologia

Participação da Família na visita multidisciplinar da UTI: vale a pena?

A participação da família na visita multidisciplinar é ainda rara na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Brasil e no mundo. Já é notório o entendimento de que a presença da família na UTI traz grandes benefícios para os ambos, pacientes e seus respectivos familiares e, com este reconhecimento, cresceu, nas últimas décadas, o movimento das UTIs que abriram suas portas para as famílias permanecerem ao lado do paciente, seja de uma maneira mais flexível ou em tempo integral.

O papel da família na UTI mudou do estilo passivo para o mais ativo, com decisões compartilhadas e até mesmo participando de certos cuidados. Entretanto, não basta abrir as portas para a família. A família requer cuidados. A transferência de um paciente para UTI é de grande impacto, com alta prevalência dos sintomas de ansiedade e depressão nos familiares e estresse pós-traumático, entre outros sintomas que compõem a síndrome pós-UTI.

É necessário entender que a comunicação efetiva é essencial neste cenário, não apenas para ajudá-los a compreender o que acontece com o paciente, mas sabemos que a boa comunicação diminui o sofrimento psíquico e aumenta a satisfação. Apesar de sua importância, a comunicação com familiares é desafiadora, permeada de insatisfação e falhas de compreensão a respeito do diagnóstico, tratamento e prognóstico, o que favorece a ocorrência de conflitos. Há uma busca constante por uma melhora, por uma comunicação empática e que traga benefícios para todos.

Recentemente, na UTI Geral do Hospital Sírio-Libanês foi implementada a participação da família na visita multidisciplinar diária, na qual é discutido o plano de cuidado. É normal a equipe se sentir despreparada para colocar a família participando da visita multidisciplinar. De início, os receios são vários: falar algo que gere conflito com a família; fornecer uma informação que não esteja alinhada com a equipe titular; poder gerar ansiedade nos familiares; sobrecarregar a equipe com a visita que pode ficar mais demorada, entre outros. É necessário vencer estes receios e mostrar os reais benefícios para todos, paciente, família e equipe e enfrentar o desafio!

Os resultados foram animadores e, em se tratando de boas experiências, é importante compartilhar para que outras UTIs possam também dar à família esta oportunidade. De acordo com a percepção de 32 famílias que responderam ao questionário por nós elaborado, avaliando a visita multidisciplinar com a sua participação, a comunicação torna-se mais efetiva; faz a família se sentir mais importante; dá a percepção de que há uma equipe unida que cuida do paciente; ajuda a diminuir os sintomas de ansiedade e depressão; ajuda a diminuir conflitos, dá maior acolhimento e aumenta a satisfação da família. É importante salientar que, de acordo com os familiares, não gerou nenhum desconforto.

Seguem algumas falas de familiares a respeito de suas participações na visita multidisciplinar:

“Ótima!!! Muito bom saber tudo que está sendo feito e a evolução do quadro. Dá muita segurança e conforto para a família”.
“Achei uma iniciativa muito boa, nos transmite segurança e esclarecimento. Muito boa mesmo. Parabéns a todos que fazem parte e meus agradecimentos”.
“Foi muito importante pra mim e toda a família. Senti uma enorme transparência nas condutas, senti que o grupo de profissionais que tratam o paciente o enxerga como um todo, sabendo tudo que se passa, senti um enorme acolhimento de todos”
.

Do ponto de vista da equipe multidisciplinar (n=18 participantes), a demanda no dia pareceu menor; não atrasou os procedimentos e deu à equipe sensação de maior segurança ao entrar no box da UTI após a visita. Para 100% dos participantes da equipe multidisciplinar, a participação da família fez com que eles se sentissem melhor e VALEU A PENA!

Concluindo, todos os benefícios pensados, tanto para a família quanto para a equipe, foram contemplados.

Renata Rego Lins Fumis,
Pesquisadora da UTI do Hospital Sírio-Libanês
Coordenadora do Departamento de Psicologia da SOPATI 2020-2021


Voltar Topo Enviar a um amigo Imprimir Home