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Avaliação de Tecnologia em saúde

Texto: Dr. Fernando Gutierrez, médico do Instituto Nacional do Rio de Janeiro. Mestre em avaliação de tecnologia em saúde.

Avaliação de Tecnologia em saúdeHouve um tempo em que uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) era avaliada pelos seus equipamentos e medicamentos. Se a UTI possuísse ventiladores microporcessados, monitores de leito multi-canais, cateter de artéria pulmonar e medicamentos modernos e caros, era considerada uma UTI de qualidade. Era uma época em que existia um número limitado de tecnologias para auxiliar o tratamento do paciente crítico e o acesso a estas tecnologias era limitado. Nas últimas décadas este cenário tem mudado significativamente. Atualmente, para diagnosticar, monitorizar, prognosticar ou tratar uma determinada patologia, existem várias tecnologias disponíveis. Além de termos mais opções, o acesso a estas tecnologias ficou mais fácil. Estamos passando por um período em que as indústrias da saúde estão progressivamente produzindo novas tecnologias e elas estão chegando com mais facilidade até os médicos. Simultaneamente a esta maior disponibilidade de tecnologias, a longevidade da população também tem aumentado. O resultado desta situação não poderia ser outro se não um aumento significativo dos custos em saúde. Entretanto, os recursos para o financiamento da saúde não vem aumentando e algumas vezes se apresentam menores. Assim, estamos vivendo um período crítico de sustentabilidade da prática da medicina intensiva com gastos progressivamente maiores e menos dinheiro.

Diante desta situação de diversas opções tecnológicas e recursos financeiros limitados, uma alternativa cada vez mais procurada é um processo de escolha o mais criterioso possível. A avaliação de tecnologia em saúde (ATS) passa a ser fundamental para uma pratica de saúde que seja sustentável. Entende-se como tecnologia em saúde, medicamentos, equipamentos e procedimentos técnicos (técnicas cirúrgicas, protocolos clínicos) e sistemas organizacionais por meio dos quais se presta saúde ao paciente. As tecnologias em saúde são criadas de maneira intensiva, acumulativa e não substitutiva. Cada vez mais temos recursos para cuidarmos de nossos pacientes. Temos diferentes tipos de medicamentos para uma mesma patologia, diferentes métodos de monitorização para uma mesma variável fisiológica e diferentes métodos de investigação diagnóstica. Não é incomum vermos solicitações de exames complementares (ecocardiograma e dosagem de peptídeo natriurético cerebral – “BNP”) para o diagnóstico de hipovolemia em um paciente crítico. Em nível ambulatorial, a facilidade de realização de cirurgias laparoscópicas possivelmente ampliou as indicações de colecistectomia.

A monitorização hemodinâmica de beira leito pode ser realizada hoje com diferentes métodos (ecocardiograma, doppler, cateter de artéria pulmonar, análise da curva de pressão arterial, etc). Estas práticas invariavelmente, são realizadas no entanto sem uma questionamento mais crítico. Qual o benefício que estamos proporcionando ao paciente ao utilizarmos estas tecnologias? Qual o impacto destas novas tecnologias no processo de tomada de decisão? Quanto cada resultado destes exames complementares modifica o diagnóstico ou prognóstico pré-teste? Muitas vezes, o uso destas tecnologias não contribui para alterar o prognostico, como também não aumenta a acurácia de um processo diagnóstico. Entretanto, temos uma tendência a assimilar com grande rapidez tudo aquilo que é novo e mais moderno. Geralmente sem uma avaliação criteriosa sobre sua eficácia, efetividade e segurança. A ATS pode ser considerada como uma avaliação sistemática das consequências da utilização de uma determinada tecnologia. Quanto, em termos de recursos financeiros, recursos humanos e logística vai ser necessário para se incorporar uma nova tecnologia na prática? Qual o impacto positivo e negativo desta incorporação? Este tipo de questionamento está presente cada vez mais na cabeça dos gestores, mas deveria também estar presente entre os profissionais ligados a assistência. Além de necessária para um crescimento economicamente sustentável, uma cultura de ATS é fundamental para um cuidado melhor do indivíduo, pois garante uma prática essencialmente focada em aumentar o benefício minimizando o risco de expor o indivíduo a procedimentos (exames diagnósticos, prognósticos e terapêuticos) que não geram impacto na sua evolução e portanto são desnecessários e arriscados.

Fonte:AMIB

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