SOPATI Sociedade Paulista de Terapia Intensiva
Tel.: (11) 3288-3332

Área restrita:

E-mail

Senha

Lembrar senha

A Saúde do Intensivista é foco de projeto apoiado pela AMIB

Não se pode esquecer que os profissionais de UTIs também são pacientes e podem sofrer de inúmeras patologias que, direta ou indiretamente, podem interferir em seu trabalho, no seu desempenho e na sua qualidade de vida.

E para avaliar a saúde do intensivista, a AMIB, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) estão apoiando o estudo “Trabalho e Saúde dos Intensivistas Brasileiros”. O projeto ainda conta com o apoio dos Conselhos Federais de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia.

O Portal da AMIB conversou com o coordenador do estudo, o Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho sobre a pesquisa que já está em andamento.

Portal AMIB - Como surgiu a ideia do projeto

Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho - O projeto surgiu por iniciativa do Dr. Dalton de Souza Barros. Esse influente médico intensivista foi meu aluno de graduação e descobriu que eu havia realizado uma pesquisa em Salvador, Bahia, resultando na minha Tese de Doutorado, cujo título foi “Condições de trabalho e Saúde dos Médicos em Salvador, Bahia”.

Esse estudo buscava descrever as condições de trabalho dos médicos em Salvador. Entende-se por condições de trabalho, a jornada de trabalho (número de horas trabalhadas, obrigatoriedade de cumprir horas extras, etc.); o tipo de contrato de trabalho (carteira assinada, prestação de serviços, etc.); a forma de pagamento (por mês, semana, dia, tarefa, etc.); o horário de trabalho (diurno, noturno, por turnos, etc.); o valor da remuneração percebida mensalmente (< R$ 5.000,00; ≥ 5.000,00 etc.), a exigência de conhecimentos técnicos; sistema de ascensão previsto; forma de controle sobre os trabalhadores (no horário de trabalho, nos intervalos, na utilização dos banheiros, na hora das refeições, etc.) tempo de folga (cumprimento, ou não, da legislação); local para refeições e condições ambientais; existência de banheiros (quantidade e qualidade); e as condições de trabalho propriamente dita (local de trabalho, equipamentos existentes, equipe de trabalho etc.), trabalho em regime de plantão, trabalho nos finais de semana, trabalho noturno etc.

Esses fatores são aceitos como determinantes da qualidade de vida e das condições de saúde do trabalhador. Estudaram-se também os aspectos relacionados ao estresse no trabalho. Na área de saúde ocupacional entende-se estresse no trabalho como: um desequilíbrio entre as demandas percebidas e as habilidades próprias de cada um para enfrentá-las. Seria a resposta psicológica, fisiológica e emocional de uma pessoa, quando tenta adaptar-se às pressões internas e externas.  Logo, o estresse pode provocar consequências negativas na saúde física e mental e na satisfação com o trabalho, comprometendo o indivíduo e as organizações.

No estudo em tela foram estimadas as queixas de saúde, as doenças, problemas com o uso de bebida alcoólica e outras drogas (lícitas e ilícitas) referidas pelos médicos estudados e estimou-se também o sofrimento mental desses trabalhadores.

O Dr. Dalton ficou interessado em realizar um estudo semelhante com os médicos intensivistas. Solicitou ainda que fossem estudadas a Síndrome de Burnout (Síndrome da Estafa Profissional) e a Qualidade de Vida desses trabalhadores.

A Síndrome de Burnout é definida como uma síndrome psicológica provocada por estresse crônico relacionado ao trabalho em trabalhadores que apresentam contato direto e prolongado com outros seres humanos - trabalhadores de Terapia Intensiva, por exemplo -, e constituída por três dimensões: Exaustão Emocional (sentimento de esgotamento físico e mental); Despersonalização (tratamento frio e impessoal com usuários); e Ineficácia (sentimento de incompetência, pessimismo, baixa autoestima). A presença da Síndrome de Burnout estaria relacionada aos sinais e sintomas identificados nessas três dimensões em um determinado trabalhador.   

A qualidade de vida consiste na percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Mesmo entendendo a subjetividade e a relatividade do conceito, na área de saúde, especialmente na área da epidemiologia (ciência que estuda a distribuição dos agravos a saúde - queixas, doenças físicas e mentais etc.), foram construídos vários instrumentos (questionários) para medir Qualidade de Vida, dentre esses o WHOQOL pela Organização Mundial de Saúde (WHO da sigla Word Health Organization e QOL da abreviação de Quality of Life).

Dessa forma, no ano de 2006 o estudo “Trabalho e Síndrome de Burnout em médicos intensivistas de Salvador, Bahia” foi realizado, obtendo-se resultados impactantes. Devo salientar que parte desse estudo foi transformado na Dissertação de Mestrado do Dr. Dalton de Souza Barros, defendida em 2012, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Área de Concentração em Epidemiologia, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia.

Por fim, ao saber dos resultados desse estudo o Dr. José Mário Meira Teles, Presidente da AMIB, estimulou a mim e ao meu grupo de pesquisa (Sala de Situação e Análise Epidemiológica e Estatística da UEFS) a realizar a mesma investigação para os intensivistas (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos) do Brasil.

Dessa forma, foi constituído um Grupo de Trabalho multiprofissional formado por médicos, enfermeiros, epidemiologistas, estatísticos, demógrafos e psicólogos para estudar as Condições de Trabalho, Sofrimento Mental (ansiedade, alterações do estado de humor), Síndrome de Burnout, estresse no trabalho e Capacidade para o Trabalho dos intensivistas brasileiros (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos). Dentre os membros desse grupo de trabalho estão: Dr. José Mário Meira Teles (médico Intensivista - Presidente da AMIB); Dra. Débora Feijó Villas Bôas Vieira (enfermeira Intensivista – Professora da UFRGS e presidente do Departamento de Enfermagem da AMIB); Dr. Luiz Antônio Nogueira Martins (médico psiquiatra - Professor da UNIFESP); Dra. Mônica de Andrade Nascimento (Médica Psiquiatra – Professora da UEFS); Dr. Dalton de Souza Barros (médico intensivista - Mestre em Saúde Coletiva - UEFS); Dra. Márcia Oliveira Estafa Tironi (Psicóloga - Doutoranda em Medicina e Saúde - EBMSP).

Portal AMIB - Qual a sua expectativa como pesquisador

Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho - Creio que estou realizando o mais importante e impactante estudo sobre as condições de trabalho e saúde dos trabalhadores de saúde brasileiros, em especial dos intensivistas, que fará emergir uma intensa discussão sobre as características do trabalho desses trabalhadores que se constituem na última linha de prevenção a morte (última linha de ação para interromper a evolução de um processo mórbido, na direção da morte ou de sequelas permanentes).  

Assim sendo, como médico e pesquisador, sinto-me honrado em ter assumido essa imensa responsabilidade, a mim delegada pela AMIB. Espero que os resultados dessa pesquisa possam orientar os caminhos técnicos e políticos para a resolução dos principais problemas desses trabalhadores.

Portal da AMIB - Ao final haverá algum artigo científico sobre o tema

Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho - Creio que esse estudo possa gerar diversos artigos científicos sobre o tema. Seguramente esse estudo fará um corte temporal na linha de investigação: Trabalho e Saúde dos Trabalhadores de Saúde no Brasil.

Portal da AMIB - Quais as principais enfermidades que acometem os profissionais de terapia intensiva.

Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho - Isso é o que queremos saber. O que hoje sabemos é que o trabalho em UTI é um dos mais estressantes, dentre os trabalhos conhecidos e estudados. No mais, temos que aguardar o resultado dessa importante pesquisa.

Portal da AMIB - Qual a mais preocupante e como interfere na produtividade desse profissional

Professor Carlito Lopes Nascimento Sobrinho - A resposta a questão anterior aplica-se a essa pergunta. A partir do entendimento que o cuidado é uma relação entre dois seres humanos, sendo que a ação de um resulta no bem-estar do outro, caso o sujeito da ação (o cuidador) não esteja em condições físicas ou psíquicas para realizá-la, poderemos ter um comprometimento do cuidado oferecido. Essa situação pode ser devastadora quando pensamos em cuidados críticos, onde uma ação inadequada pode colocar em risco a integridade física, psíquica ou mesmo a vida de uma pessoa humana.

Logo, sabemos que o estresse pode provocar consequências devastadoras para a saúde física e mental e para a satisfação com o trabalho, comprometendo o indivíduo e as organizações.

Voltar Topo Enviar a um amigo Imprimir Home